quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

SOBRE SEUS OLHOS


Debruçado sobre teus olhos, ofegante de escalar alturas e preso ainda aos teus cabelos para não cair, eu me punha a falar como sonâmbulo num deslumbramento de vertigem...

E então tu me apertavas contra o seu seio, como se eu acabasse de ser salvo em tua vida, e me revelavas que aquelas palavras sem nexo que eu, como um tonto, te repetia, não eram palavras, eram poesias...

Chegas e então me esqueço que morri tantas vezes, e volto a acreditar na eternidade.

Te amo também com as mãos, como um cego. E não me canso de procurar em teu corpo os caminhos onde me perco. Sentindo o caminhar sonâmbulo de tuas mãos e os passos embriagados de teus dedos, sou um homem que se dissolve.

É sempre a mesma ânsia...

Tomo-te as mãos, os lábios, e estremeces toda, e te deitas como os verdes capins nas encostas quando passa o vento...

A verdade é que toda vez que nossas mãos estão se despedindo, nós já estamos voltando.. Na branca bandeja de teu ventre serves a flor. Ah! minha boca sedenta de delicias é uma abelha tonta de amor.. Gosto quando me falas de ti...

e vou te percorrendo e vou descortinando a tua vida na paisagem sem nuvens, cenário de meus desejos tranquilos. Gosto quando me falas de ti...e então percebo que antes mesmo de chegar, me adivinhas, que ninguém te tocou, se não como o vento que não deixa vestígios, e se vai desfeito em caricias vãs...

Gosto quando me falas de ti...quando aos poucos a luz vasculha todos os cantos de sombra, e eu só, te encontro e te reencontro em teus lábios, apenas pintados, maduros, mas nunca mordidos antes de minha audácia.

Gosto quando me falas de ti...e muito mais adiantas em teus olhos descampados, sem emboscadas, e acenas tua alma, sem dobras, como um lençol distendido, e descortino teu destino, como um caminho certo, cuja primeira curva foi o nosso encontro.

Gosto quando me falas de ti...

porque percebo que te desnudas como uma criança, sem maldade, e que eu cheguei justamente para acordar tua vida que se desenrolava inútil como um novelo que nos cai da mão...
J.G. de Araújo Jorge.

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