sábado, 24 de outubro de 2009

Aproximação do Vaticano não deve afetar anglicanos no Brasil, diz reverendo

24/10/09 - 10h05

Aldo Quintão é responsável pela maior igreja anglicana no país.
Ele diz que aproximação é antiga e visa a uma unidade no futuro.
Daniel Buarque Do G1, em São Paulo

A decisão de acolher na Igreja Católica os anglicanos, inclusive padres casados, que quiserem se aproximar do Vaticano, anunciada na última terça-feira (20), não deve afetar diretamente, nem logo, as cerca de 20 mil pessoas da comunidade brasileira que segue esta religião. A análise é do reverendo Aldo Quintão, responsável pela maior igreja da doutrina na América Latina, em São Paulo. “Somos uma comunidade relativamente pequena, e a normativa não vai afetar quase nada o Brasil”, disse.

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Foto: Flavio Moraes/G1

O reverendo Aldo Quintão na sede da maior igreja anglicana da América Latina, em São Paulo, em 23 de setembro. (Foto: Flavio Moraes/G1)

Em entrevista ao G1, Quintão explicou que não foi uma surpresa o anúncio da Constituição Apostólica, e que ela se trata de uma decisão estratégica, parte de uma aproximação que busca, originalmente, a unidade entre as religiões. “Há muito tempo existe esta conversa com a igreja romana, sobre ecumenismo. A idéia original era que as duas igrejas tivessem unidade total”, disse. Segundo ele, a aproximação havia esbarrado na questão da ordenação de mulheres e de homossexuais, mas foi retomada por conta de um interesse Católico em atrair anglicanos insatisfeitos com algumas medidas que podem ser consideradas liberais demais.

“A igreja anglicana está dividida em três grupos, do mais conservador ao mais liberal, e a cúpula tem que encontrar uma solução para o grupo que está mais insatisfeito com os rumos mais liberais. Um acordo político entre católicos e anglicanos facilita para os dois lados e evita um racha real dentro da igreja anglicana. É como um filho que briga com o pai, decide sair de casa, mas vai morar com um tio, continua tudo próximo”, explicou. Ele disse que, no futuro, após a normativa do Vaticano, a igreja anglicana pode assumir uma postura definitivamente mais liberal, sem os conflitos internos com grupos mais conservadores.

“A igreja católica é como um avô que está assustado com a modernidade dos netos, mas não quer perder a presença deles, então aceita as diferenças, a realidade dos netos, fazendo algumas ressalvas. Ela aos poucos vai aceitando algumas mudanças, sem nenhuma atitude radical, sem criar problemas internos”, disse.

Procedimento e detalhes
Segundo Quintão, mesmo antes da decisão do Vaticano, já existia a passagem de anglicanos para a Igreja Católica. Mas, quando isso acontecia, a pessoa ficava sob a orientação de um bispo católico e estava sujeita a todas as normas do Vaticano. “O novo documento do papa diferencia, pois vai aceitar que os anglicanos mantenham a cultura de liturgia e de fé anglicana. Ele criou um tipo de vicariato, uma uniata, que são igrejas que não têm a tradição romana, mas são ligadas as Roma. Os anglicanos vão ser recebidos e vão estar dentro da igreja romana, mas de uma forma diferente, até mesmo para não criar problemas para a igreja romana, afinal de contas, os padres romanos vão continuar sem poder casar”, disse Quintão.

Apesar da explicação, o reverendo disse que na verdade ainda não foi definido qual vai ser o procedimento prático desta medida. Segundo ele, os detalhes desta aproximação ainda não ficaram claros. “Vai ser uma caminhada, vai se iniciar a conversa, a igreja romana deve começar a receber os bispos. Tem que decidir como vai ser a logística disso tudo, saber se as igrejas físicas vão se transferir de igrejas também, tudo coisa que ainda não ficou muito claro. Há muitos detalhes para discutir.”

Quintão explicou que, por mais que a ordenação de mulheres e homossexuais estivesse no cerne da discussão, a aproximação entre católicos e anglicanos dependia de outras questões muito importantes. “Os anglicanos são a favor do estudo das células-tronco, dos métodos contraceptivos, não são totalmente contra aborto em situações anencefalia e estupro, e ainda não se sabe como Roma vai receber isso”, disse.

Segundo ele, é preciso considerar também que esta grupo que vai migrar da igreja anglicana para a católica deve atrair muitos novos padres já ligados ao Vaticano, que querem continuar na religião, mas também gostariam de poder casar. “Minha impressão é que vai haver muitos padres romanos pedindo para entrar neste vicariato, querendo casar. Isso pode acontecer até no Brasil, atraindo pessoas que têm vontade de ser padre, mas que querem casar e que podem acabar fazendo surgir uma nova igreja ‘angloromana’, um novo nome.”

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