quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Missionários do amor


Quando se fala em missionário, a primeira imagem que nos acode à mente é a de um religioso devotado ao bem, alguém que dedique seus dias e noites, de forma integral, para o bem dos seus irmãos, para a Humanidade.

No entanto, missionários existem de diversos portes. E alguns muito próximos a nós.

Por vezes, pais amorosos, que recebem nos braços filhos deficientes e os sustentam por toda uma vida, com seus cuidados e extremada ternura.

De outras, amigos excepcionais, que estendem mãos de veludo para aplacar as dores dos espinhos nas carnes alheias.

Filhos dedicados que nascem para iluminar nossas vidas, à semelhança de astros luminíferos em nosso céu borrascoso.

Recordamos de uma família que conhecemos. O segundo filho do casal nasceu portador de séria enfermidade que, a pouco e pouco, lhe foi retirando a mobilidade.

Primeiro foi o andar impreciso, depois somente com amparo forte, até à imobilidade dos membros inferiores.

Da dificuldade de coordenação motora à dependência total para as mínimas necessidades: beber um copo d'agua, levar o alimento à boca.

Enquanto o drama era vivido e sofrido pelos pais, a esposa engravidou pela terceira vez.

O diagnóstico nada animador prescrevia um abortamento, dadas as complicações cardíacas da gestante, além da possibilidade do bebê ser portador de microcefalia.

Estribado na fé, o casal aguardou o tempo. O bebê nasceu perfeito. Garoto feliz, demonstrou, desde os primeiros momentos, o quanto era grato por estar vivo.

Mais de uma vez, deixava dos folguedos para correr ao pescoço da mãe, abraçá-la e dizer: Eu amo a minha vida, amo a minha casa, amo todos vocês.

A nota mais interessante começou a ser observada quando o pequeno não tinha mais que ano e meio.

Colocava-se em pé em sua cadeirinha e, com cuidado, ajudava colocar a alimentação na boca do irmão.

Na sua linguagem infantil, pronunciava: Eu judo o mano.

E na medida em que cresceu, a ajuda se tornou mais constante e efetiva.

Hoje, quase aos sete anos, o pequeno é o guardião do seu irmão. Dormem no mesmo quarto, por insistência dele.

Não são raras as madrugadas em que ele se levanta do leito, atravessa o corredor, se dirige ao quarto dos pais para pedir ajuda para o mano, que precisa alguma atenção maior.

Nenhuma queixa, nenhuma reclamação. Deixa de brincar com os amigos para se dedicar ao irmão. Busca água, conduz a cadeira de rodas, joga vídeo-game, assiste filmes, comenta futebol.

Dia desses, na sua inocência infantil, olhou para a mãe e lhe disse: Mãe, sabe por que eu nasci?

E, ante a surpresa da genitora, aduziu: Eu nasci para cuidar do mano.

* * *

Missionários existem, sim, em nossos lares. Anônimos, ocultos, realizam sua tarefa.

Missionário é todo aquele que se entrega em totalidade à tarefa de amor, na obscuridade da estrada ou nos palcos da ciência, da filosofia ou da religião.

Missionário é todo aquele que traz a consciência do seu dever de servir além e acima de qualquer circunstância.

Movido pelo amor, é qual chama ardente que não se extingue. Sol de primeira grandeza que ilumina outras vidas, em barracos infectos ou em mansões suntuosas.

Sua missão é amar e servir. Como a violeta escondida na ramagem do jardim, exala seu perfume e se esconde na capa humilde de servidor.

* * *

Quem ama, coroa as horas de luz. Quem serve, adorna o coração de ventura imorredoura.

Saiamos na direção do sol para servir.

Redação do Momento Espírita, com pensamento final do verbete Servir, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia
de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.
Em 23.11.2017.
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