quarta-feira, 14 de março de 2018

A indesejada das gentes


Já nos perguntamos, alguma vez, o que faríamos, se, repentinamente, uma doença cruel nos abraçasse e fosse decretada nossa sentença de morte?

Ou, se em plena atividade, a morte chegasse e nos arrebatasse?

A proximidade da morte já levou muitas mentes privilegiadas a refletir sobre a vida. Alguns transformaram essa reflexão em palavras.

O neurologista e escritor inglês Oliver Sacks, com câncer de fígado, aos oitenta e um anos, escreveu, em fevereiro de 2015, no jornal americano The New York Times:

Sinto-me intensamente vivo, e quero e espero, no tempo que resta, aprofundar minhas amizades, dizer adeus aos que amo, escrever mais, viajar. Se eu tiver forças, alcançar novos níveis de compreensão e entendimento.

Professor de neurologia e psiquiatria, estudioso de temas como percepção e consciência, escreveu ainda: Acima de tudo, fui um ser consciente, neste belo planeta, e só isso já foi um enorme privilégio e uma aventura.

Em sua carta-despedida confessou: Não posso fingir que não tenho medo, mas meu sentimento predominante é a gratidão.

Amei e fui amado, recebi muito e dei algo em troca, li, viajei, pensei, escrevi.

Pouco mais de seis meses depois, em agosto daquele ano, ele desencarnou.

Por sua vez, o escritor, educador, teólogo e psicanalista Rubem Alves, que morreu no ano de 2014, deixou uma carta para ser lida, em sua cerimônia fúnebre.

Escrita nove anos antes, além de reflexões sobre a terminalidade da vida, havia instruções para quando sua hora chegasse, como a declamação de poemas de autores que cantavam a morte.

Escreveu ele: Não tenho medo da morte, embora tenha medo de morrer.

O morrer pode ser doloroso e humilhante, mas para a morte tenho uma pergunta: Voltarei para o lugar onde estive sempre, antes de nascer, antes do Big Bang?

Durante esses bilhões de anos, não sofri e não fiquei aflito para que o tempo passasse.

Voltarei para lá até nascer de novo.

* * *

Serenidade ante a morte. Gratidão pela vida.

Não foi outro o ensino ofertado e vivido por nosso Mestre Jesus.

Na chamada última ceia, em Jerusalém, antes de Sua prisão, julgamento arbitrário e a crucificação, Ele dá orientações aos apóstolos.

Detém-se em pormenores, prediz sofrimentos que lhes viriam, e finaliza com uma sentida oração, em que traduz a grandeza de Seu Espírito, preocupando-se com os que ficariam:

Pai, é chegada a hora. Glorifica a Teu filho, para que também o Teu filho Te glorifique.

Glorifiquei-Te na Terra. Consumei a obra que me deste a fazer.

Manifestei Teu nome aos homens. Eu rogo por eles.

Já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo. Eu vou para Ti.

Pai, guarda em Teu nome aqueles que me deste.

Não rogo somente por estes. Mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim.

Pai, agora vou para Ti. E não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.

Depois disso, saiu com os Apóstolos para o Horto das Oliveiras, onde se manteve em oração, comungando com o Pai, até que O viessem prender.

Jesus, o exemplo.

Tantos outros, na Terra, O imitaram. Imitemo-lO, também.


Redação do Momento Espírita, com base no artigo Adeus à vida sob o sentimento de gratidão, da revista Iátrico, nº 36, de agosto de 2017, ed. do Conselho Regional de Medicina do Estado doParaná, e com transcrição do Evangelho de João, cap. 17, versículo 1ss. Em 13.3.2017.
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