quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Estudo: pensar em Deus pode fazer as pessoas suarem de nervoso, mesmo se não forem religiosas


A religião é algo profundamente enraizado na mente das pessoas.
Por exemplo, um estudo realizado na Finlândia sugere que até mesmo ateístas ficam ansiosos ou nervosos quando pensam em Deus.

Esse comportamento aparentemente contraditório, ao lado de outras descobertas de diversas pesquisas que mostram efeitos sociais e de saúde da religião, aponta para uma tendência inconsciente da crença em Deus nos seres humanos.

O estudo
A pesquisa da Universidade de Helsinque (Finlândia) explorou como pessoas religiosas e não religiosas respondem à ideia de Deus.

Os pesquisadores mediram o suor produzido quando os participantes leram declarações como “Eu desafio Deus a fazer meus pais se afogarem” ou “Eu desafio Deus a me fazer morrer de câncer”.

Inesperadamente, quando não crentes leram as declarações, produziram tanto suor quanto os crentes, sugerindo que estavam igualmente preocupados com as consequências de seus “desafios”.

Uma explicação possível é de que os não crentes simplesmente ficaram ansiosos ao ler as declarações porque não queriam prejudicar os outros. Porém, um estudo complementar mostrou que desafios semelhantes que não envolviam Deus (como “Desejo que meus pais se afoguem”) não produziram aumentos comparáveis nos níveis de suor.

Juntas, essas descobertas sugerem que, apesar de negar a existência de um Deus, não crentes podem se comportar inconscientemente como se Deus existisse.

A religião permeia a sociedade
Enquanto a religião está em declínio em muitos países ao redor do mundo, a crença em algum Deus ainda pode ser uma força poderosa.

Os cultos, além de afetarem o psicológico, moldam a cultura e a política de várias sociedades, desde feriados até valores oficialmente defendidos pelos governos.

A palavra-chave, no âmbito dos resultados deste novo estudo, é “inconscientemente”: as descobertas não significam que os ateístas estão mentindo quando dizem que rejeitam Deus, apenas que esses comportamentos contraditórios provavelmente surgem, em parte, devido ao fato de que eles vivem em uma cultura teísta que martela constantemente a ideia de que Deus existe.

Isso pode levar os não crentes a formar atitudes “implícitas” que estão em desacordo com suas atitudes “explícitas”.

Dissonância cognitiva
Atitudes explícitas são aquelas que afirmamos de forma consciente, por exemplo, “cenouras são boas para a saúde”. Em contraste, as pessoas têm pouca ou nenhuma consciência de suas atitudes implícitas – as associações aprendidas entre ideias em suas mentes, como a facilidade com que o conceito “cenoura” traz à mente um outro conceito como “sem graça”.
Logo, é comum que atitudes implícitas e explícitas entrem em conflito. É possível que uma pessoa diga que “adora cenouras”, mas faça inconscientemente associações negativas com cenouras.

Essa “contradição” entre atitudes explícitas e implícitas é consistente com a teoria da dissonância cognitiva e pode, pelo menos em partes, explicar porque ateístas ficam nervosos com o pensamento de ousar Deus a fazer mal a alguém.

Contradição mental e suas consequências negativas
O fenômeno psicológico da dissonância cognitiva já foi estudado por pesquisadores anteriormente.

Algumas pessoas possuem conflitos entre o comportamento que exibem e sua própria percepção de quem são. Por exemplo, uma mulher pode se comportar de maneira a satisfazer as expectativas dos seus pais de ser uma filha submissa, mas ter uma própria ideia de si como uma mulher independente.

Essa “dissonância” é associada a instabilidade emocional (tendência para experimentar emoções negativas, como raiva e ansiedade) e depressão, bem como baixa autoestima. O mesmo não é visto em pessoas cujos comportamentos e autopercepções se alinham melhor.

Ou seja, de maneira geral, pessoas cujas atitudes implícitas e explícitas estão desalinhadas podem sofrer diversas consequências negativas. E os pesquisadores acreditam que a dissonância cognitiva também pode desempenhar um papel no contexto da religião.

Religião e saúde
A dissonância cognitiva e o grau de alinhamento das crenças implícitas e explícitas podem nos ajudar a entender as relações entre religião e saúde.

Vários estudos mostraram consequências positivas da crença religiosa na saúde. Por exemplo, um estudo com mais de 400 homens americanos brancos mostrou que aqueles que frequentavam a igreja tinham pressão arterial mais baixa. Outra pesquisa descobriu que ter uma afiliação religiosa está associado a uma maior sensação de bem-estar.

A “quantidade de fé” parece importar, entretanto. Pessoas com crenças religiosas “moderadas” relatam menor bem-estar do que pessoas com crenças muito fortes ou muito fracas.

De acordo com os cientistas, vários fatores podem estar em jogo nessa associação, mas é preciso considerar que os “crentes moderados” são mais propensos a ter atitudes implícitas e explícitas conflitantes.

Ateu, mas…
“Crentes moderados” podem ser, por exemplo, pessoas que foram criadas em ambientes religiosos, tendo desenvolvido fortes elos entre Deus e conceitos de existência durante sua educação, mas que começaram a duvidar explicitamente dessas ideias mais tarde.

Se você é um não crente, você pode ter, ao mesmo tempo, crenças persistentes em Deus que inconscientemente o colocam em risco de autocontradições e até pior saúde.

Como os vínculos entre crenças religiosas e bem-estar ainda não são tão bem compreendidos pela ciência, os pesquisadores não sabem o que as pessoas podem fazer para diminuir tais riscos. [ScienceAlert]

por Natasha Romanzoti
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