Uma das muitas festas que mostram o sincretismo é a de santa Bárbara, em 4 de dezembro. Nesse dia, a população se veste de branco e ver melho e acompanha o trajeto do caminhão de bombeiros. No alto, ele leva a estátua da santa, que, no candomblé, é Iansã. Enquanto o carro passa, com a sirene ligada, muitas pessoas recebem o santo na rua.
“O sincretismo aconteceu em função de características mais ou menos comuns de orixás e santos. Mas essa correspondência é frágil porque eles são, na verdade, absolutamente diferentes”, ressalta Edilece Couto, professora de História das Religiões da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Ela cita como exemplo a própria santa Bárbara: o que podem ter em comum santa Bárbara, mártir e virgem cristã do século 3, e Iansã, orixá do fogo, cujo arquétipo é de uma mulher impetuosa e sensual? A semelhança entre as duas está nas funções que desempenham. Ambas são capazes de provocar relâmpagos, trovões, raios e tempestades.
O ATABAQUE ENTRA NA IGREJA
Na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que fica no Pelourinho, as missas são realizadas com atabaques e cantos afros. “Há pessoas que recebem o santo aqui dentro”, garante uma freqüentadora da igreja e que também é filha-de-santo. Em outubro, mês em que se comemora o aniversário da construção da igreja e da fundação da irmandade, há uma procissão em que a comunidade caminha com as contas do candomblé e os símbolos do catolicismo. O sociólogo Reginaldo Prandi, da Universidade de São Paulo, estudioso das religiões africanas, enfatiza que o sincretismo na Bahia é oficial. Está im pregnado na literatura de Jorge Amado, nas artes plásticas, com Carybé, no cinema de Glauber Rocha, no teatro de Dias Gomes e na música de Dorival Caymmi, Caetano Veloso e tantos outros.
Para Roberval Marinho, uma das explicações para essa religiosidade é a mistura de filosofia e cultura: “Os negros trouxeram a filosofia das culturas ágrafas, ou seja, que não dominavam a escrita. Seu conhecimento estava na cabeça e precisava ser passado adiante através de festas e outras manifestações culturais. Assim, para os africanos, o presente era o único tempo existente. Ser religioso para eles significava viver o momento em plenitude, celebrar a vida e usufruir dela da melhor maneira possível. Já as culturas gráficas, no caso o catolicismo, vindo da Europa, podiam ter seu conhecimento guardado em livros e recuperado depois. Elas aprenderam, então, a viver um tempo futuro, adiaram a alegria e até mesmo a vida para depois da morte”.
Em conseqüência dessa maneira de pensar, os negros que chegaram ao Brasil sobreviveram como puderam e ajustaram seus hábitos, inclusive os religiosos, aos do mundo que encontraram aqui. “Se para eles não havia vida após a morte, então era preciso viver a qualquer preço”, afirma o pesquisador de Brasília.
“O sincretismo aconteceu em função de características mais ou menos comuns de orixás e santos. Mas essa correspondência é frágil porque eles são, na verdade, absolutamente diferentes”, ressalta Edilece Couto, professora de História das Religiões da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Ela cita como exemplo a própria santa Bárbara: o que podem ter em comum santa Bárbara, mártir e virgem cristã do século 3, e Iansã, orixá do fogo, cujo arquétipo é de uma mulher impetuosa e sensual? A semelhança entre as duas está nas funções que desempenham. Ambas são capazes de provocar relâmpagos, trovões, raios e tempestades.
O ATABAQUE ENTRA NA IGREJA
Na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que fica no Pelourinho, as missas são realizadas com atabaques e cantos afros. “Há pessoas que recebem o santo aqui dentro”, garante uma freqüentadora da igreja e que também é filha-de-santo. Em outubro, mês em que se comemora o aniversário da construção da igreja e da fundação da irmandade, há uma procissão em que a comunidade caminha com as contas do candomblé e os símbolos do catolicismo. O sociólogo Reginaldo Prandi, da Universidade de São Paulo, estudioso das religiões africanas, enfatiza que o sincretismo na Bahia é oficial. Está im pregnado na literatura de Jorge Amado, nas artes plásticas, com Carybé, no cinema de Glauber Rocha, no teatro de Dias Gomes e na música de Dorival Caymmi, Caetano Veloso e tantos outros.
Para Roberval Marinho, uma das explicações para essa religiosidade é a mistura de filosofia e cultura: “Os negros trouxeram a filosofia das culturas ágrafas, ou seja, que não dominavam a escrita. Seu conhecimento estava na cabeça e precisava ser passado adiante através de festas e outras manifestações culturais. Assim, para os africanos, o presente era o único tempo existente. Ser religioso para eles significava viver o momento em plenitude, celebrar a vida e usufruir dela da melhor maneira possível. Já as culturas gráficas, no caso o catolicismo, vindo da Europa, podiam ter seu conhecimento guardado em livros e recuperado depois. Elas aprenderam, então, a viver um tempo futuro, adiaram a alegria e até mesmo a vida para depois da morte”.
Em conseqüência dessa maneira de pensar, os negros que chegaram ao Brasil sobreviveram como puderam e ajustaram seus hábitos, inclusive os religiosos, aos do mundo que encontraram aqui. “Se para eles não havia vida após a morte, então era preciso viver a qualquer preço”, afirma o pesquisador de Brasília.
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