As festas natalinas e os dias que as antecedem, para muitas pessoas pode ser uma época triste, que vem acompanhada por sentimentos de solidão, desamparo e desânimo, onde são tomadas por uma angústia e uma tristeza aparentemente sem motivo. Uma melancolia crescente que chega a incomodar, sintomas que se assemelham a um quadro depressivo. Essa condição é chamada Depressão de Natal ou “Christmas Blues”.
Mas o que é a Depressão de Natal? Por que isso ocorre? Como a luz do conhecimento espírita pode ajudar em sua prevenção?
A psicóloga Ercília Zilli, fundadora da ABRAPE – Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas e comunicadora da Rádio Boa Nova, fala sobre a depressão de natal e a sua prevenção à luz do Espiritismo
O que é depressão?
Ercilia Zilli: A palavra depressão tem a sua origem no latim deprimire e significa prensar de alto a baixo, comprimir. A depressão, bem como os transtornos mentais são preocupações que datam de 2.600 AC.
Hipócrates (460-370 a.C.), o pai da medicina e seus discípulos, foram os primeiros a falar sobre “melancolia”, descrevendo um conjunto de sintomas próximo do atual conceito de depressão.
A depressão é um estado patológico de sofrimento psíquico com gravidade de ânimo, tristeza, sentimento de menos valia e sensação de impotência para trabalhar e pensar. Pode ser causada por traumas emocionais, envelhecimento, ou ser conseqüência de uma predisposição genética.
A depressão surge a partir de uma alteração na comunicação entre as células cerebrais, que são os neurônios, realizada, principalmente, por dois neurotransmissores: a serotonina e a noradrenalina. Quando os níveis desses neurotransmissores se desequilibram, causam alterações químicas e fisiológicas.
O que os especialistas chamam de depressão, é algo muito mais grave do que sentir-se triste, eventualmente, pois o indivíduo não consegue ter controle sobre o seu estado emocional.
E a depressão de Natal?
Ercilia Zilli: Como vimos, a depressão é resultado de alguma pressão e o Natal tem um profundo significado de união, amor e trocas afetivas. Portanto, pode ser ocasião de percepção de solidão, sensação de não ser amado, carências afetivas, entre outras, conscientes ou inconscientes, reconhecidas ou não. A obrigação de sorrir, de perdoar e de ser fraterno pode não ser compatível com os sentimentos de uma pessoa nessa época do ano, fazendo com que ela se sinta falsa e inadequada.
Quais são os principais sintomas da depressão?
Ercilia Zilli: A depressão é uma doença que se caracteriza por um estado de humor deprimido, no qual a pessoa fica angustiada, profundamente triste, entediada, e, às vezes, indiferente a estímulos. Como os sentimentos são embotados e confusos, o indivíduo não demonstra afetividade em relação às pessoas que o cercam. As atividades cotidianas parecem não ter significado e mesmo aquelas mais simples, demandam um grande esforço.
Os sintomas mais frequentes são a sensação de vazio, tristeza, choro, irritabilidade, pressão no peito, ansiedade, perda ou ganho de peso significativos, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo motor, dores de estômago, nas costas e espalhadas pelo corpo. Dores de cabeça, redução da libido, falta de concentração, indecisão, sentimento de culpa e aparente perda do amor pela família, são queixas muito relatadas. O desejo de morrer pode acontecer, resultando numa tentativa de suicídio. O indivíduo deixa de ter a percepção do outro e fecha-se em si mesmo e a vida parece totalmente desinteressante, da mesma forma que os familiares, amigos, passeios, hobbies e sexo.
Existem maneiras de lidar com a depressão de Natal?
Ercilia Zilli: A maneira de lidar com a depressão de Natal é a mesma que para outros tipos de depressão. O diagnóstico precisa ser realizado por profissionais especializados, bem como o tratamento. Nenhuma depressão pode ser banalizada e, se necessário, é importante tomar medicação apropriada. A solução, no entanto, é o autoconhecimento e um novo posicionamento diante de si próprio e da vida. Em algum momento, a pessoa vai precisar se olhar com coragem, reconhecer as suas carências e necessidades, entender o que está acontecendo e buscar a solução através de uma nova forma de pensar e agir. A psicoterapia é de grande valia nesse processo e a sua função é ajudar o paciente a entender o seu quadro, buscar e analisar fatos da sua vida que possam ter contribuído para o surgimento da depressão, fortalecer e potencializar esse indivíduo para que ele possa reassumir a direção de sua vida, realizar escolhas, elaborar perdas, vencer medos e fantasias e buscar o eixo da sua existência.
Quais são as principais razões para que a depressão cresça a cada ano?
Ercilia Zilli: A depressão sempre existiu, porém hoje, temos mais conhecimento para entender melhor esse transtorno. Também está deixando de ser tabu reconhecer o problema, buscar tratamento adequado e falar sobre esse tema. A vida moderna, agitada, apressada, competitiva, vai quebrando vínculos e afogando afetos. A depressão é uma manifestação de imaturidade emocional, aliada a outros fatores. Com o acúmulo de cobranças externas e internas, é possível que o indivíduo não tenha equilíbrio para fazer as escolhas mais coerentes com o que sente. Vai se sobrecarregando, se estressando e, quando não da conta, sente-se fracassado.
Na época das festas de final de ano aumenta a busca por psicoterapia?
Ercliia Zilli: É inevitável que se faça um balanço no final do ano, com revisão dos acontecimentos e das metas estabelecidas anteriormente. Nem sempre alcançamos o sucesso almejado no início do ano, portanto, é importante que as metas estabelecidas sejam viáveis, caso contrário, estaremos plantando decepções, frustrações. Por vezes, é alcançado um bom resultado nesse balanço, mas sabemos que o bom é inimigo do ótimo. Se não for, ótimo é frustrante. Quando estabelecemos uma meta, fazendo um projeto de vida, é importante sabermos que correções de rota terão que ser feitas, bem como adequações diante de fatos novos. Na minha experiência clínica, é comum a busca de psicoterapia no começo do ano, parte do projeto de uma “nova vida”. O objetivo do tratamento psicológico é “trazer para hoje” a emoção e o entendimento de algo que aconteceu no passado próximo ou distante. Um autor muito querido dizia que “a neurose é uma mentira esquecida, na qual ainda acreditamos”.
Algumas pesquisas dizem que o período entre o Natal e o Ano Novo é o que apresenta o maior número de suicídios. Esse fato é real?
Ercilia Zilli: Faltam dados conclusivos para que possamos afirmar que aumenta o número de suicídios entre o Natal e o Ano Novo, mas podemos, sim, dizer que muitas pessoas se sentem deprimidas pelo inevitável olhar para dentro de si próprio nessa época do ano. É comum a saudade de pessoas que já desencarnaram e a falta de formação religiosa leva a uma grande sensação de perda.O distanciamento do objetivo da celebração do Natal, que é a vinda de Jesus ao plano material, contribui para uma grande perda de significado. A figura que mais se vê é a do Papai Noel, e lamentavelmente, não celebramos Jesus. O simbolismo dos presentes que Jesus teria recebido foi substituído pelo consumismo desenfreado.
Como a luz do conhecimento espírita pode ajudar no combate à depressão?
Ercilia Zilli: O conhecimento do espiritismo e os tratamentos espirituais podem ser extremamente importantes no tratamento da depressão. Saber que não estamos abandonados e condenados a um eterno sofrimento, mas no caminho do crescimento espiritual, nos leva a entender as provas que passamos, faz uma grande diferença. Reconhecer que a mente em desequilíbrio é porta aberta a influencia espiritual negativa, leva o ser humano a reconhecer o que é seu e o que não é da sua mente, bem como a uma busca de equilíbrio de pensamentos e ações. Os resultados dos tratamentos combinados: psicoterapia + medicação (quando necessária) e tratamento espiritual são excelentes. A conscientização de uma pessoa quanto ao fato dela ser um espírito em busca de evolução, juntamente com o autoconhecimento propiciado pela psicoterapia, faz uma enorme diferença quando ela se defronta com alguma frustração, decepção ou perda.Muitas vezes, um ego imaturo se frustra com facilidade, porque acha que a vida deve corresponder às suas expectativas infantis. Com o amadurecimento, o indivíduo pára de brigar com a vida e passa a buscar o entendimento e a ação produtiva correspondente. A fé transformadora é luz que clareia os nossos territórios íntimos.
Para saber mais sobre o assunto:
Leia: O Espírito em Terapia – Ercília Zilli – Mundo Maior Editora.
Ouça: Novos Rumos – na Rede Boa Nova de Rádio. Todas as quartas-feiras às 11 horas com reprise às quintas-feiras, às 2 horas.
Em Busca do Equilíbrio: Depressão – Ercília Zilli – Rádio Boa Nova.
por Ana Maria Teodoro Massuci
Este site não produz e não tem fins lucrativos sobre qualquer uma das informações nele publicadas, funcionando apenas como mecanismo automático que "ecoa" notícias já existentes. Não nos responsabilizamos por qualquer texto aqui veiculado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário.