“O faminto, minha filha, o pobre ser agrilhoado ao tronco desse inavaliável tormento, nem mesmo possui coração para poder amar, tampouco sensibilidade que o leve a se inclinar para o que é belo, o que é digno, o que é correto e bom!
Ele enlouquece e se desorienta sob o esmagamento cruciante dessa obsessão imperiosa! Só sente, bradando por todos os recôncavos do seu ser, a necessidade urgentíssima de se socorrer, aliviando-se do mal que o tortura, enquanto a visão do alimento que lhe não é dado obter imprime-se em sua mente qual miragem obstinada que o ordenasse conquistá-lo, sem importar os meios a empregar a fim de alcançá-lo, nem a origem de que provenha!
Por isso mesmo, observarei em tempo: — socorrer o faminto, agraciando-o com fraterna cooperação em hora tão adversa; proporcionar-lhe trabalho honroso que lhe faculte prover a subsistência; exercer caridosa proteção ao incapaz para o trabalho, que se agita e sofre entre os acumes da necessidade — não será tão somente apaziguar entranhas físicas a reclamarem o sustento indispensável. É, principalmente, consolar-lhe a alma dilacerada pela desventura! É, acima de tudo, soerguer-lhe o coração que, como os demais, foi criado para as funções nobilitantes do amor!”
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