Até há pouco tempo, se existia algo que parecia inútil – porque na consciência de todos –, era definir a função da escola na sociedade. Não havia pais, professores, psicólogos ou sociólogos que não respondessem, de cor e salteado, que a tarefa que lhe cabe é informar e formar, instruir e orientar, numa palavra, preparar para a vida. Para Paulo Freire, uma autoridade no assunto, a educação não é apenas um conhecimento teórico e abstrato, mas «um processo de humanização, um ato político e criativo». E, dirigindo-se a quem confun-de liberdade com indisciplina, completava: «Não há vida sem correção, sem retificação».
Também para Jesus, se se pretende renovar a sociedade, deve-se começar por renovar o interior do homem, pois «é o que brota do coração que contamina - ou, poderíamos nós acrescentar – transforma o homem» (Mt 15,18). Com efeito, «é pelos frutos que se conhece a árvore» (Mt 7,17). Se os frutos são azedos – a violência, a corrupção, a injustiça, a desorientação da juventude, a desestruturação familiar, a depressão e mil outros males, por todos sobejamente conhecidos – é porque a árvore está doente.
É por isso que não se entende como um governo, que se diz comprometido com a construção de uma sociedade solidária, igualitária e justa, resolva, de uma hora para outra, investir na educação... instalando máquinas de camisinhas nas escolas públicas. Foi o que anunciou o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, durante o 7º Congresso Brasileiro de Prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis, em Florianópolis, no dia 26 de junho.
Evidentemente, a Igreja Católica não pode concordar com decisões e atitudes que, ao invés de formar personalidades sadias e adultas, incentivando o autodomínio e o respeito pelo outro, fomentam o uso irresponsável do sexo e uma promiscuidade malsã. Para Temporão, a maioria dos adolescentes e jovens não se preocupa com as normas de uma Igreja que lhes parece ultrapassada. É para eles, para lhes evitar uma gravidez indesejada ou, pior ainda, a contaminação pela AIDS, que estão sendo implantadas tais máquinas. Mas, assim pensando, o Ministro está a dizer que não acredita num Brasil mais honesto e menos cor-rupto. Com efeito, se um jovem não sabe dominar-se na sexualidade, saberá fazê-lo em outros campos? Já os antigos filósofos asseveravam que o bem, para ser tal, exige totalida-de. O corpo humano é sadio quando todos os seus membros funcionam corretamente.
Em certo sentido, porém, Temporão parece ter razão. Não é fácil nem cômodo abraçar e viver os valores humanos e cristãos, sobretudo a sexualidade e a castidade. Não apenas para os casados, mas até mesmo para os padres, religiosos e bispos. Sem uma graça especial de Deus, que só se consegue por uma profunda espiritualidade, é simplesmente impossível. A quem se diz disposto a assumir o celibato, eu sempre lembro que, sem uma opção clara e concreta pela comunhão com Deus e com os irmãos, tal passo é suicídio na certa. Em qualquer sentido se queira tomá-lo. Para ser sincero, porém, eu deveria também acrescentar que o desastre não é menor em quem se deixa guiar pelos instintos sexuais, dentro ou fora do matrimônio.
Mas, voltando ao assunto, talvez o Ministro Temporão não saiba que a Uganda é a única nação da África que conseguiu diminuir o número de atingidos pela AIDS. E qual foi o segredo “inventado” pelas autoridades do país? Uma campanha em favor da fidelidade con-jugal e da abstinência sexual antes do casamento. A contaminação caiu de 26% para 6%. Por outro lado, a África do Sul está com 30% da população contagiada, apesar dos milhões de camisinhas distribuídas à população.
O que pensaram, a esse respeito, personalidades que iluminaram o caminho da humanidade? Ouçamos o Papa João Paulo II: «Liberar o uso de preservativos – que nunca são 100% seguros – é um convite a comportamentos sexuais incompatíveis com a dignidade humana. O uso da chamada camisinha acaba estimulando, queiramos ou não, uma prática desenfreada do sexo. O preservativo oferece uma falsa idéia de segurança e não preserva o que é fundamental».
Por sua vez, o grande líder Mahatma Gandhi encontrou no autodomínio a força para se tornar uma das maiores figuras da história. Ninguém se atreve a duvidar de que vivesse o que deixou escrito: «A castidade não é uma cultura de estufa; é uma disciplina sem a qual a mente não pode alcançar a firmeza de que necessita. A vida sem castidade é vazia e animalesca. Um homem entregue aos prazeres perde o seu vigor, torna-se pusilânime e vive cheio de medo. A mente de quem segue as paixões egoístas é incapaz de todo grande esforço».
Dom Redovino Rizzardo, cs
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