“A depressão é hoje um dos maiores fatores de ausência no trabalho no mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê para 2025 que ela seja a terceira maior causa de morbidade e mortalidade entre as patologias, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares e os cânceres, onde a própria depressão tem importante ação nos seus surgimentos”.
A constatação é do psiquiatra e vice-presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil (Ame-Brasil), Dr. Roberto Lúcio V. de Souza. Ele explica que não há sintomas que caracterizem claramente se existe alguma predisposição biológica para o surgimento do quadro depressivo, embora já se tenha percebido que filhos de pais (ou parentes diretos) deprimidos ou portadores de Transtorno Bipolar têm maior propensão para a depressão.
Em entrevista, o psiquiatra explica quais são as causas verificadas da depressão, a sua relação com o estresse e a diferença entre depressão e tristeza.
A depressão é uma doença de caráter primário biológico ou psicológico?
A depressão é uma doença de caráter primário biológico ou psicológico?
ROBERTO LÚCIO V DE SOUZA – A depressão, como qualquer patologia, tem sua origem no desrespeito às leis divinas, causando alterações nas estruturas perispirituais do espírito. Ao buscar a reencarnação, o espírito se liga energeticamente a um óvulo e a um espermatozoide que carreia uma carga genética compatível com as suas necessidades de aprendizado e reparação. Sendo assim, grande parte dos quadros psiquiátricos que apresentam os sintomas depressivos de maneira mais acentuada são, para a ciência oficial, de caráter hereditário. Os quadros depressivos mais graves apresentam alterações anatômicas cerebrais e comprometimento neuroquímico importante; no entanto, o comportamento da criatura, a sua aceitação ou não das dificuldades da vida e a sua imaturidade espiritual podem gerar, diante de determinadas situações – pela permanência da culpa e da mágoa – sintomas depressivos, os quais podem ter um caráter emocional, não necessitando do uso de medicamentos.
Quais são as causas conhecidas da depressão, de acordo com a ciência?
Para a ciência oficial, a depressão tem sua origem em alterações dos níveis de determinados neurotransmissores, em especial, a serotonina e a adrenalina, causados por alterações na recaptação destas substâncias pelos neurônios. Hoje, estudos já consideram alterações de algumas áreas cerebrais, mas estas hipóteses necessitam de outros estudos. São considerados também os fatores sócio-familiares e emocionais como desencadeadores ou agravadores desses quadros. Para a maioria dos estudiosos, em especial, nos quadros de Depressão Maior e da depressão no Transtorno Afetivo Bipolar, o componente genético é de fundamental importância.
E do ponto de vista espiritual?
Do ponto de vista espiritual, amigos espirituais, que orientam os trabalhos do Grupo de Estudos de Espiritismo e Psiquiatria da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, são enfáticos em dizer que a principal causa da depressão é a rebeldia. Que a depressão, em sua sintomatologia, é como uma resposta do espírito à ‘vida de não vida’, com uma recusa de viver quaisquer aspectos da sua caminhada na crosta. É como se o espírito dissesse: ‘Se eu não tenho a vida que quero, eu não quero a vida que tenho’. No meio religioso e dentro do campo espírita, não é diferente. Muitos preferem responsabilizar um terceiro por suas dificuldades e adoecimento.
Existe alguma relação entre estresse e depressão?
As condições de estresse nas quais a população em geral vem se submetendo são grandes fatores do surgimento das doenças e não seria diferente com a depressão. Em especial, nos quadros sem aparente componente biológico e para os quais os medicamentos praticamente não fazem efeito, as condições de pressão e sofrimento às quais o homem moderno é submetido são fatores, com a persistência no tempo, do surgimento da depressão.
Qual a diferença entre depressão e tristeza?
É importante diferenciar tristeza e depressão. Tristeza é uma emoção natural, presente na vida do homem, diante de determinados sofrimentos, que busca levar o indivíduo para dentro de si mesmo, para refletir sobre como vem agindo diante da vida e a sua necessidade de renovação e aprimoramento. Tristeza não é doença e não responde aos tratamentos farmacológicos e biológicos utilizados pela medicina.
Sendo enfermidade da alma (depressão), como o Espiritismo – e os centros espiritas – pode colaborar para que os casos de depressão sejam sanados, controlados ou até mesmo evitados?
O Espiritismo tem todos os recursos para atuar na causa básica da doença, auxiliando o indivíduo em sua reforma íntima. O tratamento através da fluidoterapia é auxiliar e de grande benefício para o doente. No entanto, esta terapia deve ser complementar ao tratamento clínico e psicológico, pois a criatura já apresenta lesões nas estruturas cerebrais que necessitam da intervenção medicamentosa, biológica e/ou psicológica. O Movimento Médico-Espírita reconhece na reforma íntima o verdadeiro caminho da cura do espírito, mas não prescinde dos recursos já conquistados pela ciência oficial para o tratamento dos doentes, entendendo que estes são instrumentos de alívio e auxílio até que o ser consiga alcançar um patamar evolutivo que o livre do adoecimento. No estágio atual em que se encontra a humanidade, precisamos de inúmeras ‘muletas’ para conseguirmos continuar a nossa estrada evolutiva.
A partir da Revista SER Espírita (Ed. 19 – Junho/2012)
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