quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Ser luz


O crepúsculo descia num deslumbramento de ouro e brisas cariciosas. Ao longo de toda a encosta, acotovelava-se a multidão.

Centenas de criaturas se aglomeravam ali, a fim de ouvirem a palavra do Senhor, na paisagem que se aureolava dos brilhos singulares de todo o horizonte pincelado de luz.
Eram velhinhos trêmulos, lavradores simples e generosos, mulheres do povo agarradas aos filhinhos. Entre os mais fortes e sadios, viam-se cegos e crianças doentes, homens maltrapilhos, exibindo os vermes que lhes corroíam as mãos e os pés.
Todos se comprimiam ofegantes. Ante os seus olhares esperançosos, a figura do Mestre surgiu na eminência enfeitada de verdura, onde sopravam brandamente os ventos amigos da tarde.
Deixando perceber que se dirigia aos vencidos e sofredores do mundo inteiro, Jesus, pela primeira vez, pregou as bem-aventuranças celestiais.

Sua voz caía como bálsamo eterno, sobre os corações desditosos.

Aila estava entre eles. Nunca ouvira alguém falar assim. Algo naquele estrangeiro a encantava. O filho pequeno que carregava nos braços, antes agitado, assustado com os ruídos externos da multidão, agora estava calmo, de olhos abertos, como se também prestasse atenção nas palavras do Mestre.
Em determinado momento, ela teve a impressão de que seus olhares se entrecruzaram. Ele lhe parecia familiar... De onde O conhecia?

Sentiu algo singular que lhe tocou as cordas íntimas da alma. Parecia um convite... mas, um convite para quê?

Nesse exato instante, a voz marcante deixava no ar as palavras inesquecíveis:

Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre o monte.
Nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas no velador, e ilumina a todos que estão na casa.
Assim, resplandeça a vossa luz adiante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.

Ela, então, compreendeu o suave chamado: Ele queria que ela fosse luz ao Seu lado.

Num planeta onde se fala de tanta sombra, de tantas dificuldades, de tamanha noite na alma, temos ideia do que significa ser a luz do mundo?

Parece algo pretensioso? Algo apenas para grandes Espíritos?

Não, não se trata de ser a luz do mundo, isto é, uma única luz que iluminará todas as trevas do globo. O que o Mestre quis dizer foi que a claridade na Terra virá de cada um de nós, de nossas potencialidades, de nosso esforço individual, de nossas virtudes.
Ele via em nós, em gérmen, tudo que tínhamos ainda por desenvolver. Via na semente pequenina a certeza da árvore frondosa.
Seu recado era simples: Brilhe, deixe sair essa luz que você já dispõe, não a esconda, não permita que suas imperfeições, suas mazelas, o impeçam de irradiar essa luminescência grandiosa.

E Ele foi e é a prova viva de que isso é possível, pois iluminou o mundo naqueles momentos benditos em que esteve entre nós.
Ele se fez Luz do mundo e veio nos convidar a sermos igualmente luz.

Redação do Momento Espírita, com base no cap.11,do livro Boa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos,psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.
Em 22.11.2017.
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