Estamos num mundo material em que vivemos na matéria, com a matéria, da matéria, mas não objetivamos viver para a matéria. É uma questão de bom senso, e também doutrinária, já que, como espíritas, sabemos que a vida não se esgota na realidade física. O que tem isto a ver com o título “Espiritismo pago”?
Quem é espírita sabe que as atividades espíritas de divulgação doutrinária são gratuitas, palestras, passe espírita (fluidoterapia), desobsessão, atendimento, educação espírita infantil, apoio social a carenciados etc.
Quem é espírita também sabe que os livros espíritas custam dinheiro e, portanto, têm de ser vendidos, o que é óbvio.
Já não é tão óbvio o lucro que algum centro espírita possa ter na venda desses livros, se dificultar a compra dos mesmos por pessoas menos endinheiradas.
O mesmo se passa com os jornais espíritas.
Uma questão mais polêmica começa, por exemplo, nos congressos espíritas, cujos ingressos começam a criar uma elitização dentro do Espiritismo: uns podem pagar e vão, e outros não podem pagar e não vão.
Seria desejável que os eventos fossem a um preço mínimo, de modo a que todos pudessem ter acesso, cortando as despesas dos eventos ao mínimo possível, havendo sobriedade nas ofertas aos participantes, criando inclusive condições de acesso a pessoas que não possam pagar.
Há tempos, fomos convidados para, no âmbito de uma organização à qual pertencemos, efetuarmos um programa de televisão para uma conhecida televisão por internet, que vai passar a ter canais pagos.
Alertamos os responsáveis pelo departamento de divulgação dessa entidade estrangeira para o fato de que o conhecimento espírita via internet não pode, moralmente falando, ser pago, pois só os endinheirados teriam acesso ao conhecimento, e os pobres não, repetindo, mais uma vez, os erros que os católicos cometeram com o cristianismo primitivo. A resposta foi que, se o canal não fosse pago, não suportariam as despesas e teriam de fechar esse canal (entre outros que são de livre acesso). Retorquimos que se não se consegue pagar, é melhor não fazer nada do que fazer asneira.
Pagar conhecimento espírita é atraiçoar o trabalho enorme de Allan Kardec, e a essência de todo o ensinamento dos bons Espíritos.
O Espiritismo não pode ser um comércio para os centros espíritas, nem um modo de ganhar a vida
No Brasil, começam agora a aparecer plataformas espíritas com conteúdos pagos.
Mesmo que com preços simbólicos, tal situação não se nos afigura enquadrada dentro da doutrina espírita, pois que tal contribui para a sectarização e discriminação no acesso à informação.
Numa altura em que o acesso livre à informação é uma realidade cada vez maior, em que inclusive já se consegue fazer um curso superior, em ensino a distância, gratuito, oferecer conteúdos doutrinários pagos é, no mínimo, um retrocesso evolutivo, depreciando o caminho da evolução, bem como perdendo oportunidade de avançar moralmente, dando o exemplo.
Na nossa opinião, não são os espíritas que devem seguir os exemplos de uma sociedade de mercado (o Espiritismo não está à venda, dá-se, pratica-se), mas sim deveria ser a sociedade consumista a seguir os bons exemplos dos espíritas, se estes fossem o bom exemplo.
Num assunto tão melindroso como este, muitas ideias diferenciadas aparecerão, comparando serviços pagos com os livros, jornais, o que não é comparável.
No entanto, aqui fica um ponto de reflexão para todos nós, espíritas, para que reflitamos o que estamos a fazer com a doutrina espírita.
O nosso papel é esclarecer e consolar, estudar, vivenciar e divulgar a doutrina dos Espíritos, mas não a qualquer preço, e muito menos vivendo à custa do Espiritismo.
Os fins não podem justificar os meios e, com o devido respeito por quem pensa de maneira diferente, uma coisa é certa: a cada um de acordo com as suas obras, conforme nos refere o Evangelho de Jesus de Nazaré.
por José Lucas
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