sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Iluminismo e Espiritismo

O Iluminismo, ou melhor dizendo, a Filosofia das Luzes, é o movimento filosófico do sec. XIX, que se caracteriza pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento. O Espiritismo, considerado um libertador de consciências, utilizou esses avanços de pensamento.


O Iluminismo não é uma ideia nova. Os compromissos por ele adotado já faziam parte da filosofia antiga, que se esmerava em criticar todo tipo de crença e conhecimento. Além disso, procurava usar esses conhecimentos para os fins práticos da vida.

O Iluminismo visa à emancipação do ser humano e de toda a humanidade por meio das luzes da razão. A chamada idade da razão tem por objetivo a sua própria autonomia, no sentido de vencer as trevas da superstição, da ignorância, do fanatismo, e da intolerância tanto moral quanto religiosa.

O Iluminismo assume o pressuposto de que a felicidade já não é algo utópico, mas encontra-se atrelada ao progresso material e moral da humanidade. Consequentemente, o seu carro chefe é a revolução industrial e a descoberta de novas técnicas para tornar os bens naturais em bens úteis. O homem deveria sair do estado de minoridade em que ele mesmo havia se colocado; a minoridade significando a própria incapacidade de usar o próprio intelecto sem a orientação de outrem. Daí a confiança na razão, no racional, e o repúdio a religião.


Qual o papel das ciências na propagação do iluminismo? A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas. Porisso o aparecimento das diversas ciências, cujo método teórico-experimental, em todos campos do saber, preparava a revolução industrial, a revolução da energia.

O Espiritismo surgiu na época certa, quando as ciências já estavam desenvolvidas e o método teórico-experimental era aplicado em tudo que se pensava saber. Se tivesse sido cogitado antes, poderia não vingar. Havia a necessidade de se aliar a razão a fé, ou seja, tornar a fé raciocinada.

Allan Kardec era um cientista, e como tal, tinha muito apreço pela relação causa e efeito. Não resta dúvida que recebera influência do iluminismo, pois não vivia à margem do que acontecia na França. Observe sua reação ao fenômeno das mesas girantes. Enquanto o seu amigo falava que as mesas se moviam, ele aceitava tranquilamente. Foi só relatar que, além de se mover as mesas também falavam, ele colocou em dúvida tal afirmação e foi procurar a causa, ou seja, de onde vinha aquela voz, visto que uma mesa não tem cérebro para pensar.

O espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral. É a síntese de todo processo de conhecimento, desde a filosofia de Sócrates e Platão, considerados os seus precursores. É a mais completa Doutrina de Consolo até hoje aparecida na face da Terra. Em seu conteúdo doutrinário, toca em todos pontos centrais de toda e qualquer filosofia ou religião, como é o caso de Deus, do Espirito, da matéria, da sobrevivência da alma após a morte e da comunicação com os espíritos.

A sociedade em que vivemos continua sendo influenciada pelos ideais iluministas. A influência dos iluministas, considerada sua presença na modernidade, e suas marcas históricas deram um novo rumo à política, à economia, à cultura, à sociedade e à ciência. O Estado reformulou-se, a imprensa libertou-se da censura, o mercado ampliou seu espaço, a ciência moderna avançou nos seus descobrimentos.

A democracia - o direito ao voto - tornou-se um estado de direito de muitas nações. A cultura secular, o expansionismo econômico, a indústria que se abriu para a modernização, o equilíbrio do três poderes, o declínio da religião escravizadora, a importância histórica, a superação do pensamento tradicional, são algumas das invenções culturais do iluminismo.

A sociedade em que vivemos continua sendo influenciada pelos ideais iluministas. Voltaire, Rousseau, Diderot, Montesquieu, Descartes, Newton e muitos outros refletiam o rompimento com a ideologia religiosa dominante e em decorrência viu-se a formação daquilo que foi celebrado na modernidade como sendo a "autonomia da razão", as "luzes da razão". Promovendo uma cultura baseada na "secularização da consciência" e no "mecanismo científico" promoveram o esvaziamento da alma do mundo, nas suas explicações estritamente materiais, onde "a matéria explica a matéria" e o universo é unidimensional.

As principais teorias e concepcões científicas do sec.XIX, o Positivismo, o Evolucionismo, o Marxismo, tiveram a marca do legado iluminista, ao messo tempo progressista, racionalista e experimental.

Nesse contexto do Século das Luzes, na França, onde o Iluminismo assumiu sua feição intelectual mais vigorosa, o espiritismo é elaborado pelo iluminista Allan Kardec.

Na revelação da Doutrina Espírita, é exato dizer que o espiritismo é uma ciência de observação, e não, produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudo se basearam no método experimental. Até então, acreditava-se que esse método só era aplicável à matéria, ao passo que o é, também, às coisas da "metafísica".

Allan Kardec não apenas reconhecia o papel fundamental do método positivo no avanço e na consolidação da ciência moderna, como, também, desenvolveu procedimentos para empregar tal método em seus estudos dos fenômenos espíritas, utilizando a teoria do progresso da natureza humana, a lógica e a experimentação como métodos da ciência, a racionalização da vida social, as noção das leis universais que regem o universo e a humanidade, o evolucionismo biológico e a educação racional, sendo possível constatar a significativa influência das principais vertentes do pensamento iluminista (racionalismo, experimentalismo, evolucionismo).


O espiritismo assume uma feição naturalista, isto é, concebe a evolução da vida e da humanidade por meio de leis naturais. Entre elas a reencarnação e a influência recíproca entre os diferentes planos da vida.

O caráter iluminista do espiritismo aparece no seu método, na compreensão da transformação da sociedade, através da mudança de nível da consciência e da irresistível força do progresso (moral, social, antropológico). Aparece, também, no conhecimento racional das leis espirituais, na sua aplicação no campo psicológico, nas crenças, na mudança da sociedade e das instituições.


Em verdade, Allan Kardec, respirando o clima cultural da França no século das luzes, soube trancendê-lo.


Enquanto o modelo da ciência positiva instaurava o império da razão "objetiva", Allan Kardec, no intercâmbio com os "mortos", descobria formas de vida e matéria em outras frequências e planos. Deste diálogo com o desconhecido, foi possível desfazer o aparente abismo da transcendência.

Dessa forma, Allan Kardec, com sua infidelidade ao paradigma cientificista de sua época, soube construir uma nova ciência, uma nova linguagem.

Afinal, descrever formas de matéria cuja grau de eterização rompia com a física corpuscular de Newton, em pleno sec. XIX, significou avançar na direção de uma Concepção Quântica do Universo.

Sendo assim, o espiritismo é, por um lado, iluminista no seu conhecimento racional das leis que regem a evolução bio-psico-espiritual do gênero humano. Encantando o mundo, apontando os valores espirituais, como o amor e a fraternidade universal, com o significado profundo de cada nível evolutivo em cada encarnação.

Mostrando cada ser com a sua individualidade em diferentes esferas e manifestações da vida na grande teia do universo, que não é outra coisa senão os pensamentos e sentimentos de Deus.

Nesse sentido é bom relembrar mais algumas palavras de Kardec, o próprio codificador que sempre respeitou toda manifestação intelectual e física:

"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com AS BASES FUNDAMENTAIS DE TODAS AS RELIGIÕES: DEUS, A ALMA E A VIDA FUTURA. MAS NÃO É UMA RELIGIÃO CONSTITUÍDA, visto que não tem culto, nem ritos, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sacerdote ou de sumo sacerdote (...) O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como um direito natural; proclama-a para seus adeptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade". (Kardec, Obras Póstumas - Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo, pág. 260 e 261, edição FEB).

Este site não produz e não tem fins lucrativos sobre qualquer uma das informações nele publicadas, funcionando apenas como mecanismo automático que "ecoa" notícias já existentes. Não nos responsabilizamos por qualquer texto aqui veiculado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário.