segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mulher fala pela primeira vez do milagre recebido de Irmã Dulce

Cláudia guardava o segredo a sete chaves, a pedido da Igreja Católica. Ela ficou entre a vida e a morte, depois de dar a luz ao filho. Mas ela resistiu após a foto de Irmã Dulce ser colocada no soro.
O Fantástico conta a história da mulher que guardou um segredo precioso durante dez anos, a pedido da Igreja Católica.

A uma semana da cerimônia de beatificação de Irmã Dulce, na Bahia, uma funcionária pública sergipana fala - pela primeira vez - do milagre que teria recebido da freira baiana.

Dez anos já se passaram. Gabriel tinha acabado de nascer. Cláudia, a mãe dele, até hoje não sabe como conseguiu escapar.

“A enfermeira entrou na sala em que eu estava e eu, com a visão muito turva, perguntei se eu já tinha tido neném. Foi quando ala falou: ‘Você já teve neném, seu filho é lindo’”, lembra Claudia Cristiane Araújo, funcionária pública.

Era um segredo que Cláudia guardava a sete chaves a pedido da Igreja Católica. Todos os personagens dessa história foram investigados por uma comissão eclesiástica do Vaticano, formada por médicos, religiosos e pesquisadores especializados em processos de canonização. Um desses personagens mora em Nossa Senhora das Dores, a 70 quilômetros de Aracaju. É o padre da cidade, José Almi de Menezes.

O padre Almi foi o responsável pelo pedido de socorro. Devoto de Irmã Dulce, quando soube que sua amiga Claudia estava desenganada no hospital, o padre foi visitá-la.

“Peguei a foto de Irmã Dulce, coloquei na haste do soro e disse: ‘Você olha para ela e deixe ela olhar para você. Ela balançou a cabeça. Eu disse: ‘Fique em paz e confia’”, contou o padre Almi.

Claudia diz que tem uma lembrança muito vaga daquele momento. “Eu me lembro da santinha, mas não me lembro do que ele me falou”, comenta.

Na madrugada de 13 de janeiro de 2001, Claudia foi levada da cidade de Malhador, onde mora no interior de Sergipe, para a vizinha Itabaiana. Lá, deu à luz Gabriel, seu segundo filho. Mas depois do parto, com uma hemorragia muito grave, ela ficou entre a vida e a morte.

Foram 28 horas em coma profundo. Todos os recursos disponíveis na maternidade foram utilizados para salvar a vida de Cláudia. E mesmo depois de três cirurgias, os médicos não conseguiram controlar a hemorragia.

O obstetra, chefe da equipe, diz que depois da última cirurgia perdeu a esperança. “Quando eu terminei a cirurgia, eu falei para a família que eu não tinha mais nada a fazer”, disse o obstetra Antonio Cardoso.

O coração chegou a parar de bater. Os rins não funcionavam. A família e os amigos já se preparavam para o pior. “Houve muita corrente de oração. Como é um lugar pequeno, a cidade parou naquela expectativa, só esperando a notícia: ‘Morreu’. De repente, o quadro mudou”, relata Cláudia.

Os médicos custaram a acreditar. “A enfermeira me chamou e eu achei que era para assinar o atestado de óbito. Aí ela me disse: ‘Não, doutor, ela quer ver o filho’, lembra o médico Antonio Cardoso.

O cirurgião Sandro Barral, que participou das investigações a convite do Vaticano, diz que, do ponto de vista médico, não haveria solução: “O paciente que se recupera em uma hora de um quadro daquele, que dois dias depois vai para casa, não tem uma explicação”, reconhece.
Um fábrica em Salvador trabalha para entregar 20 mil imagens em gesso. São as primeiras da Beata Dulce. Na antiga cidade de São Cristovão (SE), o Convento do Carmo está em festa. Foi lá que Irmã Dulce começou sua formação religiosa, em 1933.

“Aqui ficam as bases da sua espiritualidade, para depois ela se dedicar ao serviço aos pobres ”, conta o frei Sormane José Lima, do Convento do Carmo.

São 150 mil atendimentos por mês nas obras sociais de Irmã Dulce. Só um hospital faz uma média de 30 cirurgias por dia e sobrevive de doações e repasses do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A obra até hoje nunca deixou de pagar os fornecedores, nunca deixou de pagar a folha, e isso eu acho que é um milagre da Irmã Dulce”, acredita Maria Rita Pontes, diretora da Obras Irmã Dulce.

Ela passou a vida cuidando dos pobres. Acolhia em casa os doentes que viviam abandonados nas ruas. E eram tantos que chegou a transformar o mercado em enfermaria.

Irmã Dulce morreu em 1992, aos 78 anos. Quando já estava muito doente, recebeu a visita do Papa João Paulo II. Talvez seja esta a única imagem do encontro em vida de dois fortes candidatos a santo. A canonização deles depende da comprovação de um segundo milagre. O primeiro, atribuído à freira baiana, Claudia não se cansa de agradecer.

“Eu não era para estar aqui nesse mundo. Não era para ter criado meus filhos. Quando eu me lembro disso, só agradeço”, se emociona Claudia.
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