Declaração do arcebispo de Canterbury, motivada por casos de pedofilia na Irlanda, irritou católicos; depois, ele se desculpou
04 de abril de 2010 | 0h 00
O Estadao de S.Paulo
Em mais um desdobramento das polêmicas que envolvem os católicos nos últimos meses por causa de denúncias de abusos sexuais contra menores por membros do clero, o chefe da Igreja Anglicana e arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, afirmou ontem que a Igreja Católica da Irlanda perdeu "toda sua credibilidade". Horas mais tarde, ele pediu desculpas pela declaração.
Em maio do ano passado, um relatório do governo irlandês divulgou que mais de 30 mil crianças foram vítimas de abusos sexuais e maus tratos em mais de 250 instituições administradas pela Igreja no país. O texto concluiu que os pedófilos foram protegidos para que a instituição fosse preservada e que o Vaticano sabia dos casos. De lá para cá, denúncias semelhantes surgiram em vários países.
Williams disse, durante entrevista a ser exibida pela BBC e revelada pelo The Times, que a perda de credibilidade de "uma instituição tão profundamente arraigada na vida de uma sociedade (...) não é apenas um problema para a Igreja, mas para todos na Irlanda". Ele classificou os casos de um "trauma colossal".
O arcebispo católico de Dublin, Diarmuid Martin, disse ter ficado "estupefato" com as declarações do líder espiritual de 70 milhões de anglicanos. "Os que trabalham na renovação da Igreja Católica da Irlanda não precisavam desses comentários em plena semana de Páscoa."
Horas depois, após ser criticado também por membros de sua própria igreja, Williams expressou sua "profunda tristeza" pela polêmica que sua declaração causou e, por telefone, pediu desculpas a Martin.
No mês passado, o papa Bento XVI reconheceu a responsabilidade da Igreja pelos abusos cometidos no país, expressando sua "vergonha" em uma carta dirigida aos fiéis irlandeses.
Vida e morte. Enquanto o jornal oficial do Vaticano chamava as reações aos escândalos ocorridos dentro da Igreja de uma "vil operação de difamação", o pontífice participou ontem da vigília de Páscoa sem se pronunciar sobre os casos ou sobre a polêmica do dia anterior, quando um frade comparou membros da Igreja a judeus vítimas do Holocausto.
Em sua homilia, Bento XVI falou de vida, morte e imortalidade, questionando o que aconteceria se um dia a medicina moderna conseguisse evitar a morte. "A humanidade se tornaria extraordinariamente velha, não haveria mais espaço para a juventude. A capacidade para a inovação morreria."
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