quarta-feira, 24 de março de 2010

Ego não é egoísmo

Meditar dia e noite
Ego e egoísmo não são a mesma coisa. Digo isto depois de ouvir inúmeras pregações que, vejam só, chamam o ego de tudo que é tipo de codinome: Balaão, Jezabel; em muitas igrejas o ego é chamado até de Diabo. Confundem o ego com o egoísmo. Ego é a pessoa, o individuo. Egoismo é o “eu-ismo”, isto é, adoração a si mesmo. São duas coisas diferentes.

Com base nesta teoria de que o ego é o Diabo, a pregação exige que ele seja eliminado. Como referência bíblica, utiliza-se erroneamente as palavras de Jesus, o qual disse: aquele que quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.

No afã de eliminar o ego, quem acaba sendo eliminada é a personalidade e o senso de individualidade. Tal perda nada tem a ver com o que Jesus disse a respeito de negar a si-mesmo. Quando alguém perde a sua própria individualidade, está renunciando a sua concepção existencial, e assim, vai em busca de uma nova, que quase sempre lhe é dada de presente pela igreja onde congrega. O resultado desta fabricação de pseudo servos é que as denominações que pregam tal heresia tornaram-se em verdadeiras máquinas de clonagem onde o molde é o líder da igreja.

Ora, o ego é a pessoa como indivíduo. Ele nunca deixará de existir e nem deve ser negado. Tal ente tem personalidade, isto é, idéias, emoções, pensamentos, vontades. A advertência da Palavra diz respeito à adoração a si mesmo, isto é, a idolatria ao ego. Em outras palavras, não estamos falando de eliminar o ego, mas sim de não achar que somos deuses.

A coisa é tao absurda que algumas denominações pregam claramente que os irmãos não devem mais pensar, mas simplesmente obedecer. Simples assim. Certo vez um irmão tentou justificar tal ideia a mim dizendo que Eva só pecou porque pensou. Segundo ele, se Eva não tivesse pensado, não pecaria.

Só imagino a indignação de Eva: ó Deus, porque me deste um cérebro?

Quando Jesus disse negue-se a si mesmo, anunciava o que queria daqueles que fossem seus seguidores, isto é, que confiassem nele e não em nós mesmos. Mas de maneira alguma confiar e seguir a Jesus implica em eliminar o ego; ao contrário, pela fé Nele, fortaleço a mim mesmo e enfraqueço o perverso e maléfico desejo de adoração, afim de viver com mais confiança e saúde mental, livre das culpas e tendo como força central as certezas proporcionadas pela sua graça.

Pela fé Nele, quando sou fraco é que sou forte.

Pela fé Nele, uma parte de mim se enfraquece (o si mesmo), enquanto outra se fortalece.

O que é necessário entender aqui é a diferença entre amor e idolatria. O fortalecimento do ego faz com que passamos a perceber os valores que regem os relacionamentos. O mesmo que desejo para mim será aquilo que desejarei ao próximo. E aquilo que não desejo que se faça aos outros, também não tolerarei que o façam comigo. Isto é amor.

O que Jesus diz para negar é o “ismo”, que rima com “si mesmo” e que é idolatria. É o sentimento de querer colocar-se em posição superior aos demais. É não importar-se com as necessidades dos outros. É ter a oportunidade de ser o bom samaritano e não o sê-lo. Quanto a isto, Jesus fez vários alertas.

Lucas 20:46 Guardai-vos dos escribas, que querem andar com vestes compridas; e amam as saudações nas praças, e as principais cadeiras nas sinagogas, e os primeiros lugares nos banquetes;

Os escribas os quais Jesus se referia eram egoístas. Quando chegavam num banquete, queriam os primeiros lugares. Amavam serem saudados nas praças, como se fossem deuses. Estes adoravam o ego.

Lucas 14:11 Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.

Aquele que se humilhar será exaltado, porém não é a exaltação da humilhação que me motiva a crer em Jesus. A liberdade e as certezas que são geradas pela fé nele, e além disso, a paz santificadora que provém dele são mais do que suficientes para saber que esta é a Palavra de Deus. Pelo menos esta é a minha experiencia.

Me sinto forte não porque me considero capaz de fazer grandes coisas. Me sinto forte porque posso orar e saber que já fui ouvido.

Quando sou fraco na minha auto-confiança, sou forte pela fé em Jesus.

Tudo isso sem perder a minha individualidade e muito menos minha capacidade de pensar e fazer reflexões. Além disso, pelas minhas escolhas, respondo eu, estejam elas certas ou erradas. A sessão de humilhar-se a si mesmo passa pela coragem de assumir responsabilidades.

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