Na construção de pontes e muros os materiais empregados são praticamente os mesmos. Areia, cimento, ferro e muita mão-de-obra. Mas as semelhanças, as convergências param por aí. Não precisamos ser entendidos em engenharia para vislumbrar as enormes diferenças existentes entre as pontes e os muros. Simetricamente um tem um traçado leve, encurvado, bem delineado, até gracioso, enquanto o outro se caracteriza pela secura da reta, dos ângulos fechados, da aparência feia, árida. Pelo seu lado estético, a ponte nos remete ao belo, ao visual que enternece, ao enleio. Encontros, pescarias, passagem, acesso, liberdade, o ir e vir que realiza e enriquece. O muro, ao contrário, embrutece, pára, separa, corta, isola, empobrece.
Particularmente, eu tenho belas lembranças de pontes – e péssimas de muros. A ponte no cinema, retratando, por exemplo, um grande momento da II Grande Guerra, no Rio Kwai, lindíssima trilha sonora, o desempenho fantástico de Alec Guines, a luta pela preservação de valores individuais e coletivos. As pontes sobre os rios do centro de Recife, tráfego intenso, cruzamento de sonhos, expectativas, realizações. E os muros? O de Berlim, a Muralha da China e tantos outros espalhados pela vida, sensação de medo, de insegurança, de horror até. Os paredões de Fidel, de Stalin, os crematórios de Hitler, os porões da ditadura militar, cheiro de dor, sangue, suor – e morte. Da ponte você expande sua visão ao infinito. Diante do muro seu alcance visual é restrito e só permite enxergar o que lhe cerca.
Do mesmo modo, os homens são constituídos de material semelhante. Carne, sangue, ossos, cérebro. Contudo, cessam aí as similitudes, porque, na verdade, podemos ver nas pessoas as mesmas qualidades das pontes e dos muros. O sorriso de muitas delas é uma ponte ao surgimento de novos relacionamentos e à criação de uma atmosfera extremamente fecunda que sempre as circunda. Ao contrário, o egoísmo, o mau humor, o egocentrismo de outros são verdadeiros muros a isolar e a separar seus mundos de novas realidades, de novas e enriquecedoras experiências. Caminhando pela vida, olhando a paisagem que nos cerca, descobrimos que existem pessoas que fazem das suas vidas pontes maravilhosas, consistentes. Já outras são fechadas, secas, áridas como os muros.
Jesus foi um excelente construtor de pontes. Certa ocasião bradou “Vinde a mim vós que estais cansados e sobrecarregados e Eu vos aliviarei”. Que ponte magnífica! Quem se dirigiria assim aos que, na escala social, eram quase semelhantes a zero? Só Jesus. Pois sabia que – através da ponte do seu amor – poderia lhes assegurar um novo destino, um novo horizonte de vida. Já os fariseus eram (ou são?) muros. Fechados, intransigentes, inflexíveis, intelectualmente agarrados a uma verdade que só a eles interessava e só a eles trazia vantagens. Ainda hoje tem pessoas assim. Têm capacidade para se aproximar de outras e regar com seu amor as dores e amarguras das existências alheias, mas preferem se fechar em si mesmas. Preferem ser muro. Você também é assim? Ou não? Reflita. Afinal, o que você pretende na vida? Construir pontes ou muros?
Públio José – jornalista (publiojose@garrapropaganda.com.br)
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